sexta-feira, 26 de junho de 2009

O PROFESSOR



O PROFESSOR
E ao passar do tempo, as coisas foram mudando de forma, as ideias, ideologias, ideais !
E o menino se depara, com uma proposta extremamente nova !
Obrigações, responsabilidades, ordens, trabalho, e um compromisso novo com os estudos !
Dessa vez não terá como fugir,trabalho e faculdade passam a ser coisas obrigatórias no meio em que vive.
E para seu desespero, matemática faz parte dessa novidade !
Agora sem sua criatividade infantil, o menino não tem mais Wilie para se esquivar da realidade nua e crua, afinal ele cresceu ! Mais isso não foi um problema para o pequeno artista, é claro que com a tendência nas frestas da imaginação, o menino focou outros horizontes !
Observava tudo de uma maneira não convencional, enquanto os alunos tentavam entender o conteúdo leccionado na aula, o menino insistia em pensar em coisas do tipo: Por que esse cara fala isso? Será que ele acredita mesmo nessa história? Por que será que essa mulher é professora, será que ela já tentou ser outra coisa? quem sabe uma jogadora de basquete?
Ele sabia que isso não era normal, mais não obstante não se incomodava com tal heresia! Afinal, cada um aprende o que é capaz de aprender em cada situação vivida !
O professor maluco de história da arte era o mais humano de todos, enigmático , não parecia estar interessado em uma didática profissional, e sim em ser um profissional da vida moderna! Enfim, era a única aula que realmente importava ao menino artista. Assustadoramente numa quinta feira, depois da aula, em um boteco de esquina, o professor aparece no momento em que era citado pelo menino a um amigo ! Assim como um ídolo ! Quando o comprimento aconteceu, o professor pediu uma dose de conhaque presidente, e se sentou na mesa ! Reforçou mais ainda a admiração !
Afinal, conhaque presidente era o conhaque que ''cazuza'' tomava e para o menino e seu amigo isso era o máximo!
Começamos a conversar e logo ele reparou a admiração dos seus novos alunos, corrigindo, como dizia ele mais tarde, os seus verdadeiros alunos !
Notando isso, se fez reciproca a admiração, afinal eu sabia todas as aulas dele de cor, e para um professor sem dúvidas era um grande afago !
O final dessa conversa maluca , resultou em uma amizade muito bonita, onde o professor, não se sentia professor, e sim um grande amigo, ele sempre dizia que não existia tempo cronológico entre nós, apenas movimento, e que a vida era isso, ela ia se dando a ponto onde o tempo sempre continuava parado e nós é quem nos movimentamos, por isso a diferença de idade pra qualquer relacionamento humano, definitivamente não influenciava em nada !E assim a diferença de classe, de cor, de qualquer natureza não impediria absolutamente nada neste mundo ! Eu penso que na verdade esse discurso não passou de uma explicação profunda de que preconceito é uma idiotice sem tamanho ! Mais o menino e seu amigo não pararam de crescer desde então !
O professor depois de nos apresentar Nietzsche e outros malucos afins, nos provou que não existe diferença entre artista e arteiro ! O que difere um pintor de arte abstrata de uma criança de 4 anos que faz desenhos malucos?
Pra criança aquilo tem muito sentido, o mesmo tanto que para o pintor do abstracionismo !
E isso fez com que o menino se lembrasse mais uma vez de Wilie, ! Afinal essa história toda não era uma bobeira de criança !
O Professor louvava uma cultura enraizada em si, que era bonito de se ver, valorizava com tal força a cultura brasileira, que chegava a causar calafrios !
Uma vez me lembro que liguei pra ele, e ele estava em são Paulo, completamente feliz ,e eu perguntei o que estas fazendo ai de tão agradável meu caro professor?
Ele me respondeu:
- Estou pendurado e rodando na placa que indica a esquina ''Ipiranga com São João'' !
Aquilo mexeu comigo de tal maneira, que no mês seguinte fui para são Paulo fazer a mesma coisa que ele !
É claro, nesse mês que antecedeu a minha visita a são Paulo, eu ouvi ''sampa'' de Caetano Veloso, todos os dias sem pular um !
E só estando lá entendi toda a magia da música de Caetano, eu estava lá! Vivo, vendo aquela poesia toda em movimento, e pulsando !
Meu pai me tomou de louco, afinal, acho que ele não entenderia se eu explicasse !
Wilie: Contato com a imaginação.
Foto: Arthur Santana

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