sexta-feira, 19 de junho de 2009

PRAZO DE VALIDADE



PRAZO DE VALIDADE


Certa vez me perguntaram se eu não tinha medo da solidão
Medo de ficar sózinho, de morrer sózinho, do dia pra noite perder amigos, família, mulher.
Especificaram a perguta, citaram como exemplo ilustrativo e comparativo, a minha tartaruga de aquário! Que por sua vez é muito teimosa, criamos um viveiro para ela no quintal, mas ela insiste em fugir do viveiro e se esconder de baixo do sofá, onde não tem água nem comida. No começo eu sempre busquei apanhá-la e devolvê-la ao viveiro, por muito tempo fiz isso, até que observando sua resistência, caiu no esquecimento o meu compromisso de ''salvá-la'' todas as vezes. Quando ela passava muitos dias debaixo do sofá, eu temia ir procurá-la e encontrá-la morta, e as vezes pedia para alguém fazer isso por mim, pra eu não ter que me deparar com uma coisa que, pra mim seria trágica.
A pessoa então, que me fêz a pergunta e citou o exemplo, quiz me fazer entender que eu preciso cuidar mais das pessoas ao meu redor, pois uma hora pode ser tarde, e posso não encontrá-las mais. Na mesma hora me lembrei de uma passagem, que presenciei ainda quando criança.
morávamos numa casa humilde, e na sala existia um aguário, cheio de peixinhos coloridos. Tinha um peixinho, o mais gordo, que sempre pulava do aquário, e caia no chão, meu pai corria para apanhá-lo e devolvê-lo na água para que ele pudesse sobreviver. Colocava coisas sobre o aquário para cobrir, mais sempre que descobria o peixinho gordo insistia em pular para fora ! Depois de muitas e muitas tentativas em salvar o peixinho, de cuidar, as vezes meu pai conversava com o peixe, e falava num tom de compaixão, afim de fazer o pobre peixe entender que aquilo poderia ser um erro fatal, meu pai sabia que o peixe não poderia entendê-lo, mas mesmo assim, fazia o que podia.
Mas um dia, não estávamos em casa, e o peixe pulou, e dessa vez não deu tempo de ninguém ajudá-lo.
Não que as pessoas sejam como o peixinho gordo ou a tartaruga teimosa, a minha resposta de imediato parecera que eu me referisse a isso, mais não.
As vezes não cuidamos das pessoas ao nosso redor, como talvez elas quizessem, pelo simples fato de não sermos compatíveis com as suas teimosias, mesmo depois de sentir o desespero da morte se aproximando, o peixinho continuou a pular do aquário, e a tartaruga mesmo sabendo que não havia água nem comida, até hoje vive de baixo do sofá. Com pessoas funciona mais ou menos assim também, a certa altura, não há mais nada que sua criatividade, seu amor, e sua compaixão possa fazer para ajudar tal pessoa teimosa ! O que nos resta é nos conformarmos !
Ou abandoná-las !
As pessoas tem um hábito de suportar e se conformar, com os defeitos de uma pessoa amada, de um familiar, mais se limitam a isso. Se fossem capazes de lidar com as pessoas que não amam, da mesma maneira , talvez não existissem guerras !
Aceitar um pai alcóolatra é algo que te deixa sem opção, aceitar um chefe no seu emprego que te persegue, não!
Hoje em dia as pessoas só lutam bravamente pelo próximo que esteja extremamente próximo, e não o resto dos seus semelhantes. Se ao menos entendessem isso, que biblicamente o segundo mandamento''amar o próximo como a ti mesmo'', é algo mais simples de entender do que a própria metafísica. Que é algo prático, e não só contemplado pela beleza das escrituras !
Agora era a minha vez de perguntar, o que realmente temos?
Tem como tratar as pessoas como produto, e se apossar de um individuo? Tem como considerar isso? O que temos e o que sentimos no âmago de nossas almas alem de um imenso vazio?
Amigos não duram para sempre, familia não dura para sempre ! Ou acaba por algum problema de relacionamento e falta de compreesão ou disposição para isso, ou simplesmente, a ordem natural das coisas nos leva e tras as pessoas a hora que bem entende ! No fundo somos apenas nós mesmos ! Os relacionamentos nesse tempo que habitamos o planetinha azul, vem com prazo de validade, só não nos é vizivel !
Acho que fui muito ríspido na minha expressão, e acabei assustando a pessoa com quem conversava, com esse papo de prazo de validade , a conversa terminou a essa altura, com uma proposta de mudarmos o rumo da prosa.
Por mais que pareça pessimísmo, eu aprendi a não confundir pessimísmo com realidade a passei a entender com mais aceitação a minha paixão pela solidão.
Sozinho , apenas eu e o meu vazio, que muitas vezes era preenchido com Deus, me lembrei que o pequeno menino de nossa estória preenchia o seu vazio com o Willie !
E passo a pensar, que um dos maiores bens concedidos por Deus a um homem, é a sua própria imaginação ! É o que faz o caminho ser alegre ou triste, ser distante ou proximo, mais essa vazão, e esse livre arbítrio pode fazer o tiro sair pela culatra, e o homem com sua fértil imaginação não acreditar nem mesmo no seu próprio criador !


Fraguimento da obra: Wilie: Contato com a imaginação . De: Arthur Santana
Foto: Arthur Santana

Nenhum comentário:

Postar um comentário