PRAZO DE VALIDADE
Certa vez me perguntaram se eu não tinha medo da solidão
Medo de ficar sózinho, de morrer sózinho, do dia pra noite perder amigos, família, mulher.
Especificaram a perguta, citaram como exemplo ilustrativo e comparativo, a minha tartaruga de aquário! Que por sua vez é muito teimosa, criamos um viveiro para ela no quintal, mas ela insiste em fugir do viveiro e se esconder de baixo do sofá, onde não tem água nem comida. No começo eu sempre busquei apanhá-la e devolvê-la ao viveiro, por muito tempo fiz isso, até que observando sua resistência, caiu no esquecimento o meu compromisso de ''salvá-la'' todas as vezes. Quando ela passava muitos dias debaixo do sofá, eu temia ir procurá-la e encontrá-la morta, e as vezes pedia para alguém fazer isso por mim, pra eu não ter que me deparar com uma coisa que, pra mim seria trágica.
A pessoa então, que me fêz a pergunta e citou o exemplo, quiz me fazer entender que eu preciso cuidar mais das pessoas ao meu redor, pois uma hora pode ser tarde, e posso não encontrá-las mais. Na mesma hora me lembrei de uma passagem, que presenciei ainda quando criança.
morávamos numa casa humilde, e na sala existia um aguário, cheio de peixinhos coloridos. Tinha um peixinho, o mais gordo, que sempre pulava do aquário, e caia no chão, meu pai corria para apanhá-lo e devolvê-lo na água para que ele pudesse sobreviver. Colocava coisas sobre o aquário para cobrir, mais sempre que descobria o peixinho gordo insistia em pular para fora ! Depois de muitas e muitas tentativas em salvar o peixinho, de cuidar, as vezes meu pai conversava com o peixe, e falava num tom de compaixão, afim de fazer o pobre peixe entender que aquilo poderia ser um erro fatal, meu pai sabia que o peixe não poderia entendê-lo, mas mesmo assim, fazia o que podia.
Mas um dia, não estávamos em casa, e o peixe pulou, e dessa vez não deu tempo de ninguém ajudá-lo.
Não que as pessoas sejam como o peixinho gordo ou a tartaruga teimosa, a minha resposta de imediato parecera que eu me referisse a isso, mais não.
As vezes não cuidamos das pessoas ao nosso redor, como talvez elas quizessem, pelo simples fato de não sermos compatíveis com as suas teimosias, mesmo depois de sentir o desespero da morte se aproximando, o peixinho continuou a pular do aquário, e a tartaruga mesmo sabendo que não havia água nem comida, até hoje vive de baixo do sofá. Com pessoas funciona mais ou menos assim também, a certa altura, não há mais nada que sua criatividade, seu amor, e sua compaixão possa fazer para ajudar tal pessoa teimosa ! O que nos resta é nos conformarmos !
Ou abandoná-las !
As pessoas tem um hábito de suportar e se conformar, com os defeitos de uma pessoa amada, de um familiar, mais se limitam a isso. Se fossem capazes de lidar com as pessoas que não amam, da mesma maneira , talvez não existissem guerras !
Aceitar um pai alcóolatra é algo que te deixa sem opção, aceitar um chefe no seu emprego que te persegue, não!
Hoje em dia as pessoas só lutam bravamente pelo próximo que esteja extremamente próximo, e não o resto dos seus semelhantes. Se ao menos entendessem isso, que biblicamente o segundo mandamento''amar o próximo como a ti mesmo'', é algo mais simples de entender do que a própria metafísica. Que é algo prático, e não só contemplado pela beleza das escrituras !
Agora era a minha vez de perguntar, o que realmente temos?
Tem como tratar as pessoas como produto, e se apossar de um individuo? Tem como considerar isso? O que temos e o que sentimos no âmago de nossas almas alem de um imenso vazio?
Amigos não duram para sempre, familia não dura para sempre ! Ou acaba por algum problema de relacionamento e falta de compreesão ou disposição para isso, ou simplesmente, a ordem natural das coisas nos leva e tras as pessoas a hora que bem entende ! No fundo somos apenas nós mesmos ! Os relacionamentos nesse tempo que habitamos o planetinha azul, vem com prazo de validade, só não nos é vizivel !
Acho que fui muito ríspido na minha expressão, e acabei assustando a pessoa com quem conversava, com esse papo de prazo de validade , a conversa terminou a essa altura, com uma proposta de mudarmos o rumo da prosa.
Por mais que pareça pessimísmo, eu aprendi a não confundir pessimísmo com realidade a passei a entender com mais aceitação a minha paixão pela solidão.
Sozinho , apenas eu e o meu vazio, que muitas vezes era preenchido com Deus, me lembrei que o pequeno menino de nossa estória preenchia o seu vazio com o Willie !
E passo a pensar, que um dos maiores bens concedidos por Deus a um homem, é a sua própria imaginação ! É o que faz o caminho ser alegre ou triste, ser distante ou proximo, mais essa vazão, e esse livre arbítrio pode fazer o tiro sair pela culatra, e o homem com sua fértil imaginação não acreditar nem mesmo no seu próprio criador !
Fraguimento da obra: Wilie: Contato com a imaginação . De: Arthur Santana
Foto: Arthur Santana
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